Uma das interrogações que muitos colocam é como foi possível que ao longo das últimas três/cinco décadas a generalidade das pessoas, incluindo a geração dos nossos pais, não se tivesse apercebido da crise climática e ambiental, e muito menos da sua gravidade.
Parte da explicação pode ser esclarecida com o seguinte truque de ilusionismo: Um elefante, em plena luz do dia, num parque de estacionamento vazio, de repente irrompe do nada e fica próximo do observador (neste caso o point-of-view do observador é o da câmara de filmar).
Veja primeiro este vídeo e depois continue a leitura:
How to make an elephant appear! Magic Secrets Revealed: https://www.youtube.com/watch?v=2-WHR8muZk0
Spoiler alert!
O grande segredo, é o elefante ter sido escondido a pequena distância atrás de um cenário de teatro, aliás bastante tosco se reparar bem.
Se o observador tivesse examinado o mundo à sua volta de uma forma meticulosa, ter-se-ia apercebido desse “falso horizonte”. Mas, no mundo real, os seres humanos estão rodeados por imensas distrações. É-nos muito difícil examinar com a devida atenção.
Mas a conclusão mais inquietante a que chegámos, é que cada um de nós é simultaneamente o observador, o ilusionista e os comparsas.
Cada um de nós é o ilusionista, e um comparsa? Sim. Iremos explicar de forma breve o que se passa no interior do nosso cérebro.
Primeiro, de forma inconsciente, o nosso cérebro constrói esses toscos cenários de teatro, assegurando-nos que nada de inquietante para a nossa existência vai ocorrer no futuro próximo.
Segundo, difundimos essa mesma visão construída do mundo uns aos outros (somos todos comparsas no truque de ilusionismo) que para os nossos cérebros se confunde com a realidade.
Terceiro, qualquer indício ou informação contraditória com essa realidade por nós mesmos construída é minimizado e quase ignorado. O processo de censura é simultaneamente individual e coletivo. Todos nos tornamos por ação ou omissão, comparsas semelhantes às “testemunhas” do vídeo.
A atenção é o recurso humano mais escasso de todos - a nossa capacidade de captar e processar nova informação do mundo exterior é extremamente reduzida - e costumamos gastá-lo quase na totalidade, ou com os nossos quotidianos, ou com a nossa esgotante atividade profissional e escolar ou nas ficções e fantasias que consumimos avidamente para descansarmos do nosso árduo esforço de nos adaptarmos à realidade.
É assim que o elefante da crise climática e ambiental, que tem permanecido escondido mesmo muito próximo de nós, para a grande maioria irromperá subitamente e só se tornará visível quando já for demasiado tarde…
António Telo e Patrícia Pereira
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